quarta-feira, 29 de agosto de 2018

AMOR

O amor é mais do que perfeito! É a afinidade, a dedicação, a gratidão!
Numa das fases mais difíceis da minha vida, encontrei, na Lapa, num micro apartamento
um espaço sublimado de moradia e em criação de contos, romances e roteiros
O que me moveu e comoveu, foi a disposição de meu querido marido, em aceitar essa
mudança tão radical de bairro, de espaços e de afastamento dos entes
 queridos. Na foto,eu escrevendo meu livro "As aventuras do Vampiro Carioca",
Uma homenagem ao escritor Dalton Trevisan e, em particular
ao seu livro "O Vampiro de Curitiba". E foi um sucesso: virou seriado e depois um filme.
Hoje, 12 anos depois, já de volta à Zona Sul,  como feliz pelas amizades
que fizemos e pelas felizes viradas que ocorremos.






    

Parte I
A agonia e o êxtase.

Desde há muito aprendi a superar o que hoje chamam de bullying. Chorar, eu chorei muito, mas às escondidas. Suportar a dor, preservar meus pais dos acontecimentos perversos-polimorfos daquelas meninas que se aglomeravam em grupos de tortura não só nos recreios, como nos banheiros, parecendo esses animais que se jogam contra as paredes e portas como se ali tivesse um monstro deformado e ameaçador. E eu calava. Na volta para casa, rádio, fone nos ouvidos e as deliciosas e reconfortantes músicas clássicas da Rádio Ministério da Educação me renovavam e tudo então se tornava paz. Depois de ouvir minha irmã tocar música em nosso piano, jantávamos e depois cada um de nós ia fazer o que queria : minha mãe ouvia novelas no rádio, meu pai, na sua oficina, viajava em relógios e inventos. Eu pegava as folhas cor de laranja que ele trazia de seu trabalho, na radiologia, e também viajava, a meu modo, desenhando. Assim, eu chegava à África com um grupo de exploradores que visavam estudar e salvar os animais sem jamais feri-los. Neste grupo, havia um rapaz a quem eu amava. Eu sempre o desenhava de costas, pois, se ele tivesse uma face, eu teria que encontrar a sua imagem idêntica no mundo real. Então eu aguardava. Dez anos depois, numa festinha na casa de uma amiga, eu vi a porta se abrir e entrarem vários rapazes. Mas eles estavam todos fora de foco. Apenas um estava nítido: era o meu amado. E ele passou a ter face e coração.
Um dia, ainda na infância, aos 11 anos, minha mãe anunciou que minha irmã e eu trocaríamos de escola. Eu entrei em desespero, porque pensava que era melhor um mal conhecido do que uma coisa que poderia ser ainda pior. Esse é o manual do sobrevivente.

Parte II
A maldade é um prazer para alguns

As professoras de antigamente eram chamadas de Dona.. Não havia, como anos depois se popularizou, o Tia... No primário tive quatro professoras principais. A primeira, Dona Nininha, era carinhosa e se espantou quando ao chegar na sala viu o que eu havia escrito no quadro negro: Fernando e Nininha, dentro de um coração. "Você já sabe escrever?" perguntou ela. ""Sei sim! Desde os 4 anos". Ela e um colega de trabalho de uma tia minha namoravam. Boas lembranças dela. No 2º ano, Dona Tininha, uma senhora séria demais. Nessa época, quando passei pela primeira cirurgia da minha vida, aconteceu um acidente: ao descer para o pátio, tropecei numa escada de vinte degraus e caí dentro de uma lata de lixo. Irônico, não? Na terceira e na quarta série, Dona Elisa: ela gostava e bajulava as meninas-sobrenome, cujas famílias eram da alta sociedade. Nas duas últimas séries, Dona Maríli, risonha e bonita, ela olhava nos meus olhos, quando me perguntava alguma coisa. Havia uma psicóloga, que nunca víamos e um padre charmoso que acabou entrando como personagem em um de meus livros.
 Fui a uma última festa promovida pela escola. E foi nessa festa que eu entrei em êxtase, pela primeira vez: havia jogos, comedorias e um espaço para dança. As meninas más estavam juntas e empolgadas por um grupo de meninos do colégio Santo Inácio. Eu observava a cena e, realmente havia um deles muito bonito mesmo. Elas apostavam qual delas seria a escolhida por ele para dançar. E ele olhou para todas e...me tirou para dançar. Pela primeira vez eu percebi que eu era bonita.

Parte III